domingo, 20 de junho de 2010

LILLIAN, MARCIA E EU.


"Elma, Lillian me lembra você (ou será o contrário?), cada uma a seu modo. Espero que lhe desperte sentidos e sorrisos.” São palavras de uma amiga, recheadas de carinho, escritas na primeira página de um livro delicioso e emocionante que ela me deu de presente.
Na primeira segunda-feira de cada mês, a cozinha do restaurante de Lillian se transforma na Escola dos Sabores, onde um pequeno grupo se reúne na expectativa de aprender a preparar deliciosas receitas “ou pelo menos é isso que esperam que aconteça”. A chef Lillian que se apaixonou pela culinária ainda menina, vai mais longe, propondo desafios com alguns poucos ingredientes essenciais, fugindo das receitas tradicionais, do rigor das quantidades definidas e da tirania do modo de preparo. Ali, na cozinha de Lillian, os aprendizes se deixam levar pelos sentidos. Ela aprendeu que os ingredientes têm alma e o poder de mudar a vida das pessoas e que, no fundo, estamos todos em busca de respostas “que vão muito além da cozinha.” Descobrir os segredos da arte de cozinhar é se deixar (trans)formar pelo paladar, pelos cheiros e pela textura dos alimentos. É mudar com prazer. É crescer sem dor. É honrar os sentidos. É puro respeito à natureza das coisas.
Cara amiga, que presente você me deu! Não estou falando do livro em si; refiro-me aos momentos temperados com emoção, daquelas boas, que arrancam a gente do chão, que nos fazem perder momentaneamente o fôlego e sentir o que de fato importa na vida. De algum modo, somos colegas na Escola dos Sabores, na cozinha de Lillian que é um verdadeiro tributo à amizade. Saboreei cada capítulo. Merci Marcia.
E você, o que deseja encontrar em uma escola de cozinha? Comece por aqui. E, “depois de ler este livro, nunca mais fará uma refeição como antes.” Certa vez, Lillian, ainda criança, preparou um purê de batatas na tentativa de resgatar a mãe de uma profunda depressão. “A água quente da grande panela azul fervia devagar e as batatas se agitavam de um lado para o outro. A cozinha se encheu com o calor e com o cheiro do leite aquecido. Verificou as batatas. Estavam prontas. Parem de cozinhar-disse enquanto despejava água fria sobre as batatas fumegantes. As cascas se soltaram. Ligou a batedeira e viu as batatas se transformarem de formas em texturas. Pedaços de manteiga derreteram. Despejou lentamente o leite. Depois acrescentou o sal. Queijo parmesão, ralou um pouco, pegou as finas lascas e as deixou cair como uma bruma na tigela da batedeira ainda em movimento. Pronto.”
Bon appétit.

sábado, 19 de junho de 2010

"PEDE MOLEQUE!!!"



Junho é mês cheiroso; é mês gostoso. É mês de fé. De acordo com historiadores, esta festividade foi trazida para nós, pelos portugueses, durante o período colonial, época em que havia uma forte influência de elementos culturais portugueses, chineses, espanhóis e franceses. Da França veio a dança marcada; da China, os fogos de artifício; da península Ibérica, a dança de fitas... Todos esses temperos culturais foram se misturando aos do nosso povo nas diferentes regiões do Brasil e pronto, a festa ganhou a nossa cara, virou festança. Mas foi no nordeste, região de povo de fé (que sem ela, a seca já teria rachado também as almas), que a festa ganha expressão. É hora de render homenagens a São João, a Santo Antônio e a São Pedro e agradecer as chuvas raras que nutrem a agricultura simples que aliviará por um tempo, a dor e a tristeza da fome. Junho é mês de alegria! Junho é também a época da colheita do milho, a base de muitos doces, bolos e salgados que recheiam a festa. É a vida tingida de amarelo. Tem pamonha, cural, canjica e milho cozido molhadinho com manteiga salgada que derrete na boca e lambuza a gente de prazer; tem broa de fubá pra tomar com café coado no coador de pano; arroz doce, pinhão assado, pipoca, cuzcuz, cocada, batata doce... Não pense que esqueci o pé-de-moleque. É a história dele que me trouxe até aqui. As doceiras mineiras afirmam que essa deliciosa iguaria de amendoim torrado nasceu em Minas Gerais mesmo “uai” e que antigamente elas colocavam os tabuleiros com o doce na sacada das janelas para esfriar e os moleques vinham e vapt, roubavam alguns pra comer escondido (e o doce que já era bom, roubado ficava ainda mais doce) e elas gritavam, na vã tentativa de educar os meninos: “Pede, moleque!”. Parece que o nome do docinho foi deturpado só porque nossas doceiras não se importavam com o imperativo dos verbos. Quer saber, danem-se os imperativos da língua, dessa língua complicada que é a nossa. O que tem que imperar na vida, são as coisas simples, os bons momentos, as conversas com amigos de verdade, a doçura da voz dos filhos, as boas novas... Há alguns meses, minha filha, que mora em Minas, me disse que era a vez de ela ser mãe; e há poucos dias, me anunciou por telefone: “É um menino, mãe!”. Tenho que partilhar minha alegria ou vou explodir feito balão no ar. E aqui vai meu recado: Querido DH, estamos prontos (ou quase) pra receber você, cheios de amor pra dar. Venha com a beleza e a alegria de seus pais. Tenha bon appétit e fome de mundo. E quando precisar de mim, pede moleque!!!