sábado, 28 de agosto de 2010

ASTÉRIX AMERICANIZADO



Uma propaganda do McDonald's com o gaulês mais gaulês que existe, o orgulhoso Astérix, traçando hambúrguer e batata frita causou revolta entre fãs do quadrinho francês, considerando o anúncio uma afronta ao patrimônio nacional. A publicidade mostra o herói francês e seus compatriotas festejando seu tradicional banquete na rede de fast-food. “O que vem depois? Tintin comendo no Subway?" Escreveu um blogueiro. “Que irônico, o invencível gaulês fazendo propaganda para os invasores", disse outro revoltado no Twitter. Foram tantas as manifestações de indignação, que até eu vou meter a colher nessa briga...
O McDo (como a rede é- carinhosamente- apelidada na França) é, e certamente sempre será, alvo do sentimento anti-americano que reina neste país; uma ameaça imposta pela “mondialisation” à tradicional cozinha francesa, ao simples, gostoso e charmoso sanduíche francês, feito com baguette dourada e crocantíssima, untada com manteiga cremosa, recheada com jambon de Paris (um presunto divino!)... Entendo os franceses e até estou do lado deles, da culinária cuidadosa que preza pela qualidade dos alimentos. Mas atire a primeira faca quem nunca devorou um sandubão da rede americana, seja por falta de tempo, por falta de opção ou por opção mesmo, simplesmente por querer e pronto. É bem verdade que os lanches da bendita rede são uma tremenda porcaria bem embaladinha e nunca farão parte das 1001 Comidas para provar antes de morrer, mas eles existem, estão por toda parte, são comidos, são até amados por um bocado de gente. Fazer o quê!? Mas os americanos erraram. Erraram feio. Foram estúpidos. Não souberam aproveitar o prestígio do simpático Astérix nem o que há de melhor nessa relação: o lado amigável, divertido, fraterno... Minha amiga Márcia W., que é tranquila e sempre bem-humorada, quando soube da história, declarou com toda naturalidade que lhe é peculiar: “Ué, era só o McDo fazer um sanduíche de javali e todo mundo ficava feliz!” Adorei Márcia! Fica aqui a sugestão para o departamento de marketing da tal rede, mas os créditos são da minha amiga (ou vocês vão ter que se entender com essa tupiniquim de músculos tonificados!).
Bon appétit!

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

SAUDADE DE GRAVIOLA



A graviola, também conhecida como pinha da Guiné-Bissau, nasceu nas Antilhas. Não procurei saber como chegou até nós, mas sei que hoje a planta é cultivada principalmente no nordeste do país; sei também que ela é pouco exigente em relação a terrenos, gosta de climas úmidos e de baixas altitudes. Os frutos são grandes, pesados e ovais; cheinhos de sementes pretas envolvidas por uma polpa macia e branquinha; de sabor agridoce, muito suave que lembra a fruta-do-conde. De perfume delicado e sensual (é isso mesmo, sensual). Uma gostosura! É tudo o que sei. É só disso que me lembro. E tem esse nome lindo que bem poderia ser nome de mulher, de instrumento musical, de inseto voador, de ritmo de dança...
Outro dia, na seção de laticínios de um supermercado, me deparei com um iogurte com polpa de graviola; claro que havia algumas porcarias químicas no preparo da bebida, como em quase tudo que vem das indústrias; fiz vista grossa; comprei a novidade láctea para provar. Provei. E o que me veio à lembrança, foi uma mousse que me serviram em uma pousada de São Luiz do Maranhão, já faz um tempo. Era mousse de graviola, sim, agora tenho certeza! Deu saudade de graviola... A bacia cheia de gomos branquinhos, feito tufos de algodão, no colo da cozinheira, perfumavam o ar; ela, toda orgulhosa da fruta, cheia de si; a dona da receita, a detentora do segredo; ela, generosa e desprendida, me explicou sem frescuras, o preparo simples da delícia. E eu, onde estava com a cabeça que nem anotei? Será que tinha um “pulinho do gato”? Tarde demais. Não sei quando vou de novo por aquelas bandas. O jeito é me virar com o que tenho por aqui. Afinal, “na cozinha como na vida, nós damos certo da maneira como podemos”, Nigella Lawson me ensinou. Vai ser com polpa de graviola congelada mesmo que vamos matar essa vontade. Hidrate 1 envelope de gelatina sem sabor em 3 colheres de sopa de água e dissolva em banho-maria. Bata no liquidificador com 1 lata de leite condensado, 1 lata de creme de leite, 2 saquinhos de polpa de graviola congelada e 1 xícara de chá de leite integral. Pronto. Coloque em tacinhas e leve à geladeira por pelo menos 4 horas. Decore com lâminas fininhas de castanha do Brasil. Agora me diga, tem como não dar certo uma mistura dessas?
Bon appétit!

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O GLUTÃO




Glutão é um animal voraz, parecido com um urso pequeno, que não se cansa de comer. Devora tudo o que lhe aparece pela frente: peles de animais, pedaços de couro, carne dos roedores... Porém, na falta destes, o glutão não mede esforços para atacar animais de grande porte e saciar momentaneamente uma fome implacável. É um bicho considerado esperto e tem a reputação de roubar as presas das armadilhas, para o desespero dos caçadores. O homem glutão é muito, muito parecido com ele. É o guloso, o comilão. O glutão come e não percebe o sabor do que comeu. Não sentiu o cheiro. Não se atentou à sutileza dos prazeres atrelados ao ato de comer. Não apreciou. Engoliu sem observar. Aí está a diferença entre o glutão e o gourmet. Este último desfruta, saboreia, dá tempo ao paladar, come com os olhos, aprecia, homenageia, res-pei-ta; o glutão só devora, engole sem fome, bebe sem sede, sem moderação; menospreza o alimento e ofende o cozinheiro caprichoso.
Sei que de médico, glutão e louco, todos nós temos um pouco; e de glutão, Deus me ajude, quero ter quase nada. Os ingleses é que estão certos ao afirmarem que “o glutão cava seu túmulo com os dentes” e do outro lado do Canal da Mancha, Victor Hugo ensinou que a “indigestão é uma criação de Deus para impor uma certa moralidade ao estômago.” Amém.
Nunca escrevera antes sobre o glutão, até me deparar com um, disfarçado de gourmet; foi um desprazer do início ao fim. Aguentei firme. Rezei baixinho. Pergunto-me até hoje o que me fez ficar ali durante tanto tempo. Ainda não sei ao certo e, talvez, nunca saberei... Sou educada mas ando com preguiça das pessoas, com preguiça de discutir, de jogar conversa fora.
Receita de comida, hoje aqui não vai ter. É o jejum do corpo pra tornar a alma mais leve. Vou saborear minha fome e me poupar do desgaste de ter que digerir comidas e insultos. Fome também tem gosto. O glutão, coitado, nunca saberá.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

EM MINHAS FANTASIAS



“É que tenho um fascínio enorme pelas panelas, pelo fogo, pelos temperos e por toda a bruxaria que acontece nas cozinhas, para a produção das coisas que são boas para o corpo. Não é só uma questão de sobrevivência. Os cozinheiros dos meus sonhos não se parecem com especialistas em dietética. Interessa-me mais o prazer que aparece no rosto curioso e sorridente de alguém que tira a tampa da panela, para ver o que está lá dentro. Minhas cozinhas, em minhas fantasias, nada têm a ver com estas de hoje, modernas, madeira sem a memória dos cortes passados e das coisas que se derramaram, tudo movido a botão, forno de micro-ondas, adeus aos jogos eróticos preliminares de espiar, cheirar, beliscar, provar, perfurar... Tudo rápido, tudo prático, tudo funcional. Imaginei que quem assim trata a cozinha, no amor deve ser semelhante aos galos e galinhas, quanto mais depressa melhor, há coisas mais importantes a se fazer... Quero voltar à cozinha lenta, erótica, lugar onde a química está mais próxima da vida e do prazer, cozinha velha, quem sabe com alguns picumãs pendurados no teto, testemunhos de que até mesmo as aranhas se sentem bem ali... Eu diria que a cozinha é o útero da casa: lugar onde a vida cresce e o prazer acontece, quente... Tudo provoca o corpo e sentidos adormecidos acordam. São os cheiros de fumaça, de gordura queimada, do pão de queijo que cresce no forno, dos temperos que transubstanciam os gostos, profundos dentro do nariz e do cérebro, até o lugar onde mora a alma.... Cozinha: ali se aprende a vida. É como uma escola em que o corpo, obrigado a comer para sobreviver, acaba por descobrir que o prazer vem de contrabando. A pura utilidade alimentar, coisa boa para a saúde, pela magia da culinária, se torna arte, brinquedo, fruição, alegria. Cozinha, lugar dos risos... Cozinheiro: bruxo, sedutor. “-Vamos, prove, veja como está bom...”
São pedacinhos de Aprendendo das cozinheiras do delicioso Rubem Alves. O que dizer, meu Deus, depois de tanto amor oferecido, servido, derramado? Só resta me lambuzar com suas palavras, devorar letra por letra... Ah Rubem, pelo menos na cozinha, somos farinha do mesmo saco. E em minhas fantasias, é com você que cozinho.
Bon appétit!

terça-feira, 17 de agosto de 2010

MINAS, O PAÍS DAS MARAVILHAS.



No mundo da gastronomia é comum dividir a cozinha brasileira em três categorias: a baiana, a nordestina e a mineira. O que é no mínimo injusto com uma culinária feito a nossa, infinitamente rica. Mas se assim tiver que ser, é esta última que, a meu ver e pro meu gosto, melhor retrata o brasileiro comum, de alma despretensiosa, quase ingênuo. É na cozinha mineira que os alimentos simples, os grãos mais comuns, os bichos comestíveis se transformam, sobre o calor das lenhas do fogão caipira, em comidas inesquecíveis, de sabor inigualável. O arroz cozido tem que ser branquin e soltin, o frango criado no quintal vira franguin no molho cremoso e amarelin, o feijão se transforma em tutu apimentadin, o milho é sempre bem cozidin, tem couve e quiabo refogadin e a doce banana frita, que essa não pode faltar, rechonchuda e molhadinha, pra coroar a refeição e até virar sobremesa, se coberta com açúcar e canela, aí vai do gosto do freguês. Os mais exigentes não abrem mão da combinação popular que homenageia o amor, Romeu & Julieta; os gulosos e sem muitas restrições alimentares se deleitam com a goiabada cascão feita no tacho de cobre, o figo em calda grossa, o doce de leite bem apurado apelidado de “pingo”, o pudim de leite, o doce de ovos e a ambrosia, ah a ambrosia, esse doce sem precedentes, o hors-concours das delícias açucaradas, o melhor doce do mundo! No país das maravilhas é tudo tão “in e inha” que se você não abusar da abusada cachacinha mineira, dá até pra encerrar a refeição com um cafezin preto acompanhado de rapadura em pedacin. Sem falar que em matéria de panelas, Minas desbanca todo mundo com as suas de cobre ou de ferro, as de barro e as de pedra que são o sonho de todo cozinheiro doidin por elas.
Outro dia li um frase da chefe Ana Luiza Trajano, profunda conhecedora da culinária brasileira: “... em gastronomia é sempre muito mais difícil fazer o simples. Ter os ingredientes corretos, colocados da forma certa, é o que traz a verdadeira riqueza da comida.” Em Minas Gerais é assim, uai.
Saiba que existem muitas versões de receitas de ambrosia (algumas muito antigas) e sua origem é discutível; folheie os velhos livros de receitas da família, com certeza terá uma a sua espera. Você sabia que Ambrosia significa “manjar dos deuses do Olimpo que traz a imortalidade”? Viva Minas!
Bon appétit!

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

CUIDANDO DELE




Pesquisas realizadas no Brasil e no mundo afora afirmam que os homens vivem em média sete anos menos que as mulheres (em alguns casos, ainda bem!). Entre as doenças que mais agridem nossos homens, está a obesidade, que traz outros problemas de saúde mais graves, como o infarto, a diabetes e a hipertensão arterial. Sem falar que os machões correm dos médicos como o diabo da cruz.
Alguns alimentos como a linhaça (rica em fibras e fonte de ômega 3), vegetais ricos em licopeno, presente no tomate, na melancia e no pimentão devem ser incluídos no cardápio masculino para prevenir doenças, melhorar o desempenho físico e mental e retardar o inevitável: o envelhecimento. Sem esquecer o alho que aumenta a elasticidade dos vasos, cuidando com esmero da circulação. Tem também a soja preta que neutraliza a ação dos radicais livres, previne contra o câncer e doenças do coração. Inclua também a farinha de banana verde no cardápio de seu homem pra controlar o colesterol e outras mazelas que tiram o sossego do corpo. Outra dica: uva nele! O suco integral da fruta (quanto mais escura, melhor) e o vinho tinto seco são poderosos antioxidantes, domam a pressão e acalmam o estressado. Lembre-se de que comida boa, na dose certa, associada a uma atividade física (sexo bem feito, por exemplo) são fundamentais para uma vida feliz. Outro dia fiz uma massa para um amigo; confesso que a intenção não era cuidar da saúde dele e, sim, matar o tempo na cozinha. Ficou deliciosa e riquíssima em ômega 3. Vinho não tinha, mas nosso humor, que costuma ser bom, regou a refeição. Cozinhei 250gr de macarrão tipo penne (grano duro) em bastante água com sal grosso e ervas finas. Fiz um molho improvisado super simples com 1 lata de sardinhas no suco de limão (escorra o excesso de óleo) e suco de 1 limão inteiro (use limão siciliano, vai ficar muito mais gostoso!). Amassei as sardinhas com garfo, reguei com o suco e misturei à massa escorrida e ainda bem quente. Salpiquei, sem dó, queijo ralado misturado com raspas de limão. Ficou pra lá de bom. Sirva a massa em cumbuquinhas e decorada com folhas do que você quiser (manjericão, hortelã, salsinha...). Cuidemos dos homens que restam neste planeta tão... feminino.
Bon appétit!