segunda-feira, 8 de junho de 2015

PAU DOCE

Foi na página virtual de um amigo real que me deparei com a seguinte pergunta: Você já comeu Pau doce? Pois muito bem, você que me conhece um bocadinho, que vez ou outra compartilha meus escritos, já deve ter uma ideia do tamanho da minha curiosidade no que se refere à comida e afins. Pau doce, pau doce... Por que cargas d’água eu, aos 53, jamais provara um pau doce?! Tive vergonha de deixar a postagem sem resposta. Declarar um sonoro Não seria quase humilhante. Relutei. Mandei ver: Comer, comer, não... Parei por aí e fui buscar, ali e acolá, mais sobre o tal pau doce. Pra começar, descobri que o protagonista dessa conversa tem um monte de apelidos: Bananinha-do-Japão, Chico-magro, Gomari, Macaquinho, Mata-fome, Pé-de-galinha, Tripa-de-galinha, Uva-da-China, Passa-do-Japão... Não, não mesmo, jamais tivera o prazer de abocanhar um pau doce, concluí entristecida. Continuei a busca. O pau doce é uma cápsula seca e marrom-avermelhada, sustentada por pedúnculos carnosos e docinhos, e cada pauzinho contém de duas a quatro sementes amarronzadas. De sabor aprazível quando consumido maduro, deve ser evitado verde por seu sabor adstringente e descartado quando passado, pois fermenta e fica com gosto alcoólico. Na boca revela-se crocante e muito doce, e no final bem fibroso. Foi o que aprendi. Enfim, é um fruto exótico que mais parece um talo; ou seria um talo exótico, doce, fibroso que lembra sei-lá-o-quê?? Quero nem saber, não morro sem provar, pode apostar! Bon appétit!



sábado, 30 de maio de 2015

PAPO SOBRE CORTES

Vou caducar vendo coisas inusitadas no mundo virtual. Um mundo de imagens e palavras desfilando a uma velocidade estonteante, diante de olhos e ouvidos curiosos... É sobre uma dessas imagens que vamos conversar. Trata-se da foto de um produto de supermercado, embalado e devidamente etiquetado, como manda o figurino. A história começa aqui. Sobre a etiqueta com código de barras, lê-se: PRECHECA/ Peso: 1.016/ Preço kg: 16,50/ Total: 16,76. Na parte superior da postagem, a indignação, digo, a indagação: “Alguém me explica que carne é essa???” E é claro que compartilhei a tal foto, na tentativa de obter mais informação para a curiosa parte. Você pode imaginar o alvoroço diante do tão cobiçado talho, e a partir daí, a conversa rolou solta! Resolvi então, na medida do possível, transcrever alguns comentários e dicas sobre a tal precheca a 16, 50 o quilo. De cara, um amigo disse que queria dois quilos sem osso, o que causou o maior espanto em outra amiga que retrucou de pronto: “Essa qualidade de carne não pode ir pro congelador. Vc vai comer tudo de uma só vez?!” A resposta dele é melhor deixar pra lá. Um outro, mais abusado, perguntou se era Friboi e confessou não fazer ideia de como se prepara uma precheca, afinal, ele sempre gostou mesmo é de músculo. Entendi. Uma outra disse que o quilo da precheca estava caro pra cassete; e mais um curioso queria saber se o tal corte ficava perto da sambiquira... Observem que pouco se sabe sobre precheca. Tenho cá meus conhecimentos sobre comidas e afins e prometo não economizar esforços para desvendar o mistério desse talho milenar... Pra começar devo dizer que trata-se de uma parte delicada, de tecido macio, porém firme, suculenta se preparada comme il faut. É um pedaço nobre, mas não se deixe enganar: tem precheca que não vale um pequi roído! Atenção na hora de escolher a sua! Uma boa precheca não se acha em qualquer esquina. Outra dica importante: a cor da precheca não define sua qualidade. Há uma gama de prechecas à disposição. Precheca saudável, gordinha ou magrinha (vai do gosto de cada qual), tem que ser limpa, bem tratada e fresquinha. Outra questão capital: o preparo da precheca. Aqui não há regras severas: cada um prepara a sua à sua moda e desejo. Porém, a melhor precheca é a in-natura, ricamente temperada pela Mãe Natureza. Nada de sal, pimenta ou qualquer outro condimento picante, no máximo, algumas gotas de azeite extra-virgem pra hidratar a superfície, e basta! Receita não vou dar, mas não despreze meus conselhos: precheca vai bem com outras partes igualmente gostosas: combine-a com músculo, picanha e língua. Sirva sempre bem quente (carnes mornas são indigestas) e terá muita satisfação. Aguce sua fome e aproveite! Bon appétit!


domingo, 29 de março de 2015

REFLEXÕES DOMINGUEIRAS

Passei um pedaço da tarde deste domingo na companhia de duas amigas que estão a mil com um projeto novo: a produção de conservas artesanais: tem a caponata de berinjela, a conserva de batatinhas, e a de alho que fica suave e crocante como uma castanha. Todas deliciosas, preparadas com ingredientes de primeira linha e muita, muita dedicação. De volta pra casa, sob uma chuvinha preguiçosa, desci os vidros do carro pra deixar os pingos lerdos e frescos entrarem pelas janelas... De que adiantariam o azeite extra virgem espanhol, o vinagre de maçã, o bom vinho branco seco, os temperos fresquinhos, a medida certeira do sal e da pimenta, se não houvessem a criatividade, a competência, o capricho, a dedicação e o carinho no preparo? Juntei as pontas, conclui: boa comida e relacionamento amoroso precisam das mesmíssimas coisas: ingredientes bons e algum savoir-faire pra virar uma coisa boa, caso contrário, o “negócio” fracassa! Saí há pouco de um relacionamento que contava com bons ingredientes, mas faltou criatividade, cuidado, dedicação e competência (isso mesmo: competência) na manutenção: azedou. Nosso negócio faliu. Virou uma receita banal, destemperada, como muita conserva ordinária por aí... Agora cá estou, perdidinha, sem saber qual receita concluiria esse texto meio sem pé nem cabeça... De receitas o mundo virtual anda transbordando: tem receita de comida, de bebida; pra acabar com chulé, tirar bicho-de-pé; pra ser feliz, pra fazer feliz; pra acordar bem, pra dormir bem; pra emagrecer, pra engordar (não, pra isso acho que não tem); pra ter sucesso, pra não deixar o sucesso lhe subir à cabeça; pra achar marido e pra deixar o cretino... Então, nada de receitinha hoje, mas vai um conselho, e esse é dos bons, pode acreditar: cuidado com homens que não sabem cozinhar! Eles também não sabem amar. Bon appétit, porque sem esse, a vida perde um bocado da graça!